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Avaliações do Game Chef Brasil 2014: Caça ao Assassino, de Paulo Diovani

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Caça ao Assassino

Paulo Diovani

Esquema-Caça-ao-Assassino

Esquema do Sistema

Quem nunca brincou de Detetive? A brincadeira quintessencial de investigação, em que o detetive tem que descobrir quem é o assassino antes que ele mate todo mundo, já foi infinitamente retrabalhada em uma multitude de party games: Bang, Samurai SwordCoup, Love Letter e The Resistance me vêm à mente imediatamente. Além disso, com os seus papéis que contém instruções de atuação, ele remete facilmente aos RPGs. É uma influência assumida para o Violentina. Caça ao Assassino segue o mesmo caminho, é um Detetive em formato de larp.

O maior mérito do autor, então, não é a originalidade do tema do jogo, e sim a forma como ele ele incorpora em seu design o tema central do Game Chef 2014:  “Não há livro.” É fácil dizer “ok, então meu jogo vai ser um larp”, mas em Caça ao Assassino não há sequer um manual de aplicação.  Todas as instruções estão espalhadas em cartas que serão distribuídas entre os participantes, e elas vão fazendo efeito à medida que os jogadores as manipulam.  Algumas regras podem nem entrar em jogo, dependendo do número de participantes, em um sistema engenhoso de classificação de importância de cada carta. Uma das cartas permite ao jogador escolher a ambientação do jogo, e outra permite, inclusive,  que o seu portador escolha como funcionará uma mecânica: o período de reutilização dos itens! Além dessa adaptabilidade fácil, a distribuição do sistema em cartas auto-explicativas elimina qualquer separação entre o momento de explicação do jogo e o momento em que efetivamente se joga, fazendo com que ele seja extremamente amigável e ágil.

Do ponto de vista da experiência de larp, o jogo  deve ser bastante leve. A única instrução temática é a referida carta de ambientação, que pode nem entrar em jogo, a depender do número de participantes. Pode ser que alguns jogadores sintam falta de maiores indicadores para a composição de personagens mais profundas do que simplesmente “Policial” ou “Assassino”. Um maior desenvolvimento das personagens é  exatamente o que o  formato de larp faz bem,  em oposição aos card games em que seu “personagem” nada mais é do que um poderzinho. Caça ao Assassino prevê que os jogadores deem nomes aos seus personagens, mas a preocupação com uma caracterização para por aí. Explorar maiores laços entre as personagens, ou entre elas e a ambientação do jogo não deixaria a experiência menos divertida. A aplicação de alguns conceitos da escola nórdica de larps talvez pudesse enriquecer bastante a experiência. Por outro lado, o minimalismo mantém o jogo atrativo para iniciantes e jogadores casuais. Daria um ótimo party game!

Ainda assim, seguindo a filosofia minimalista, há um elemento no jogo que ainda “sobra”: as cartas de objetivo. Elas tem como único propósito informarem a função dos personagens, o que no caso de Assassino, Policial e Vítima já é bastante óbvio! Mesmo o Espião e o Detetive Particular não precisam de maiores explicações além do que suas cartas de personagem já dizem. Seria diferente se  o objetivo recebido por cada um complementasse aquela meta já expressa com o personagem. Isto acrescentaria uma possivelmente interessante camada de incerteza! Mas, do jeito que está, não vejo razão para que as cartas de objetivo e de personagem não sejam fundidas.

No geral, o jogo parece já bastante jogável. Talvez precise de algum ajuste no equilíbrio de poder dos itens, ou na idéia de negociação, mas nada indica que o jogo já não esteja completo.  Embora seja um larp bem leve, ele é bem fiel à sua proposta. E como uma resposta ao desafio do Game Chef, bem, é uma bela resposta!

Autor: jptrrs

arquiteto-anarco-rpgista amante de quindins, vento na cara e pseudo-filosofia de buteco.

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